05 Abril 2022
“O capitalismo concentra o tempo histórico que levou a humanidade a conjugar as relações sociais em termos do modo de produção do Desastre”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 02-04-2022. A tradução é do Cepat.
A todas as descrições do capitalismo contemporâneo é preciso acrescentar sua característica mais reveladora e, no entanto, implícita em sua origem.
Por isso, não se trata exclusivamente do desenvolvimento das forças produtivas, nem da extração da mais-valia, nem da produção geral da pobreza. Finalmente, chamamos de capitalismo um dispositivo onde quaisquer que sejam as advertências ou prevenções que se tenham, a destruição, a catástrofe, está garantida. Trata-se sempre de um desastre ecológico, social, político e subjetivo. É possível explicar especificamente o modo como os desastres acontecem nas diferentes esferas, inclusive em nossas escolhas políticas.
Para nos aproximar desse fenômeno, seria necessário vincular o mito da “acumulação primitiva”, analisado por Marx em O Capital, quando aborda um movimento violento e cruel onde a riqueza não é gerada pelo mercado, mas pela espoliação exercida pelos mais fortes sobre os vulneráveis.
O outro vetor está em Freud e sua célebre pulsão de morte. O desenvolvimento da civilização em seu progresso, segundo Freud, seria acompanhado, em todo o seu processo, por um aumento desconhecido das pulsões autodestrutivas.
A pandemia e a guerra compõem um quadro de Pandemônio onde poderíamos dar conta ou ao menos encontrar outra inteligibilidade para tudo o que nos acontece atualmente.
Mas esta abreviada descrição não é para fomentar o ceticismo, mas para tentar uma nova abertura na experiência política, que, na medida do possível, reduza sua face instrumental e destrutiva e se aproxime de um cuidado como Cura do ser.
O capitalismo, nessa perspectiva, concentra o tempo histórico que levou a humanidade a conjugar as relações sociais em termos do modo de produção do Desastre.
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Nota sobre o capitalismo como modo de produção do Desastre. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU